Acabou-se o que era doce!

Mal a viagem começa , os pensamentos me tomam por inteiro. Entre eles, sentimentos dubios, um misto de certeza e duvida, coragem e inseguranca. Nao! Nao estou na corda bamba, muito menos em cima do muro. Afinal, a vida é assim mesmo, inconstante e, para tal, os sentimentos assim o sao. Tenho certeza de quem sou e o que eu quero. E nao fugi do foco.

O calornaustralia volta com todo o gas. Desta vez, incluindo uma vertente jornalistica e um cunho mais racional, mas sem deixar de lado boas doses de humor de vez em quando. E vamos rir muito aqui, pois, como diria Millor Fernandes, o Humor é tudo, ate engraçado.

O aviao deixa a pista. Dois meses de ferias se passaram .... sera que foram suficientes? A sensacao é que nao, claro, o Homem nunca esta’ satisfeito. Mas valeu sim, e ja é conhecido que a gente deixa tudo pra ultima hora e, ca entre nos, no ultimo dia, na correria, nao sobra tempo nem pra pensar; age-se por puro impulso. E nisso a gente esquece de tanta coisa, de dar um simples abraco num amigo ou de fazer uma ligaçao dando tchau. Ainda bem que os amigos entendem. Pelo menos espero!

Durante a viagem a Australia se conhece bastante brasileiro. Na fila do aeroporto de Sao Paulo a gente ja faz uma entrevista com cada um pra saber a que cidade vai, o que vai fazer e quanto tempo vai passar la. No aeroporto de Buenos Aires fica aquela reuniao de brazuca discutindo aonde vai comer. Dai saí na “excursao” de brasileiros rodando e tentando achar alguma coisa gostosa pra comer, mas ja se sabe: “ Saiu do Brasil, comeca o drama de comida”

Hora de embarcar de novo! A ansiedade continua, mas a brasileirada se une pra dar força um ao outro. No meio da viagem, a gente sempre se reunia no fundo do aviao pra fugir do tedio. (mas, convenhamos, 17 horas num aviao nao tem como nao dar tedio ne!) A aeromoça ficou doida mandando a gente fazer silencio, mas foi em vao. Olha so a conversa: ( ta meio escuro mas ta valendo!)



Dai a gente volta, cada um pro seu lugar, dorme um pouco, ve filme, quando um abre a janela e grita: “ Iceberg!!!” E eu olhei pro lado e disse: “ Oxe, como assim?” Acredite! Eu olhei nas telinhas das poltronas e a localizacao do aviao estava atravessando o Polo Sul, e ai deu pra ver esses grandes blocos de gelo no mar. Observe:




Detalhe: a viagem foi todo o tempo de dia!!!

O aviao aterrissa. Na esteira de bagagens o sufoco: Cade meu teclado? Rodei tudo e nada. A fila da quarentena estava formada e so faltava eu com as malas para serem checadas. La passa uma mulher com um cachorro, ele cheirava e identificava se havia comida ou nao. Como a Australia e’ uma ilha, qualquer bacteria que venha na comida, graos ou sementes, pode se alastrar e causar uma epidemia ou, como diz minha amiga biologa Samara Resende, uma pandemia. Foi entao que perguntei a uma agente da imigracao sobre o desaparecimento do teclado e ela, calmamente, disse: “ Querido, as bagagens consideradas frageis ou especiais ficam naquela esteira ali”. Quando olhei, la estava o danado sozinho! Eee ruth!

Depois ainda fiquei no aeroporto ajudando um colega que vinha morar em Sydney e mal tinha o ingles basico. (Este sim e’ corajoso, nao eu!) Dai levei ele pra comprar celular, adaptador, cartao telefonico internacional pra ligar pra mae, discar os codigos de area, ate que rachamos o taxi pra casa, pois iamos para mesma regiao.

Entao...fiquei na ultima casa que estava antes de ir ao Brasil, com Lilian e Vanessa, que me garantiram o pouso ate eu achar uma nova casa. Mas no dia seguinte me propuseram ficar mais uns dias ate o contrato vencer, pois elas tambem estariam saindo em algumas semanas.

Bom.... Estava todo mundo me perguntando quando iria atualizar o blog de novo. A resposta e’ compreensivel: Estava sem tempo, pois todos os dias estao sendo de busca, tanto para minha nova casa quanto para novos trabalhos. Essa nova fase da vida ta muito diferente da primeira. Desta vez, sem luxos, sem passeios de trem, e’ hora de correr atras do “tempo perdido”.

Em tempos atuais so se fala em recessão. A crise ja aponta sinais na Australia de alguma forma: os trabalhos vem pingados, algumas coisas sobem de preco. Entao eu digo aqui que to na crise. Mas que crise boa hein! ( sem ironias, acredite) Estou me conhecendo melhor nessa era de contencao de gastos. Aqui tem que se trabalhar pra viver, pois tudo e’ pago por semana. Haja dinheiro ne!

Entao cortei tudo que era besteira: meus iogurtes de framboesa, meus chocolates quentes do Max Brenner, meus biscoitos Tim Tam, meus milk shakes Krispi Kream, os sabonetes franceses, roupas da Myer, sucos da Boost e umas sardinhas de Marrocos que adorava. Por falar nisso, ontem quase morri de raiva. Fui comprar as sardinhas no supermercado e nao vi o preco. Quando cheguei em casa pra preparar meu jantarzinho com arroz, vi o absurdo que paguei : $4,50 numa lata de sardinha.( Olha o sinal da crise ai) Meu Deus, procurei ouro na sardinha mas nao encontrei. Enfim, hoje vi o quanto eu gastava com besteira e o dinheirao que deixei de economizar. Acho que ja curti o bastante nessa Australia. Acabou-se a brincadeira, Leandro!

Como falei, a crise tem la seus beneficios. Fui ao parque em frente de casa durante o por-do-sol e falei com Deus, rezei e pedi sinais. Porque ele sempre me mostra, e’ impressionante! No outro dia, fui a escola para acessar um site de empregos muito eficaz aqui na Australia ( www.gumtree.com.au). Estavam precisando de garcon num restaurante chamado Sienna, no bairro Wooloomooloo. Com tanto “o”, achei que fosse um bairro chique, mas se trata de um bairro aborigene perto do centro. Merda!


Fiz um trial ( le-se trai-ou) que e’ um teste pratico e passei! Acho que se tivesse “papai” mandando dinheiro a balde eu nem teria ido procurar emprego. Pra voce ver, o ditado mais certo diz: “ A necessidade faz o Homem”. Ai fico assim, pegando os trabalhos casuais do Jockey, do Kirribilli Club, das duas agencias de emprego, do Vivaz Restaurant e agora do Sienna. Ta melhorando hein!

Agora to procurando casa, porque a gente vai sair daqui a duas semanas. Mas cada um vai pro seu canto. Entao to vendo um “studio” pra morar, que e’ tipo um quarto de hotel, com cozinha e banheiro acoplados. Talvez more sozinho, mas ainda to vendo isso. O ruim e’ o preco do bond ( o seguro de mobilia que se paga no inicio de qualquer contrato de aluguel que serve de garantia para o proprietario do imovel), que e’ de 4 vezes o valor do aluguel, a vista! A titulo de curiosidade, os studios variam de $230 a $300 por semana. Os de $300 da pra dividir com mais uma pessoa, entao nao fica tao pesado. Os de $230 so valem a pena pela privacidade de viver em paz, sozinho, e quando e’ bem localizado, que se economiza no transporte. Um studio eh assim:

O segundo fim-de-semana em Sydney foi marcado por dois grandes eventos. Dia 7 de marco ocorreu o Mardi Gras, a famosa Parada Gay, evento anual que tem Sydney como sede na Australia.

O que me impressiona e’ a equipe que o governo australiano disponibiliza depois do evento. Como as ruas ficam muito sujas e cheias de gente e lixo, vem a cavalaria, os policiais de escudo, um helicoptero, motos e carros para “arrastar” a multidao das ruas, para que seja feita a limpeza.

Em seguida vem outra equipe com uma especie de carros-tanque com umas vassouras embaixo varrendo tudo, aspirando e esguichando agua. Dentro de poucas horas, tudo esta limpissimo!

Ja no dia seguinte, ocorreu o Festival de Cultura Portuguesa, no bairro lusitano Petersham aqui em Sydney, com representantes de paises que o usam o idioma como lingua oficial, entre eles Macau, Angola, Brasil e Portugal.

Entao e’ isso, minha gente. To muito feliz de estar de volta, nesse novo desafio da vida. Tenho absoluta certeza de que estou no lugar certo e fiz a escolha idem. As crises vem e vao. Cabe a todos nos saber que quando acaba o algodao-doce nao adianta ficar lambendo o palito, quando ainda se quer mais.
“ A vida e’ um combate, que aos fracos abate, que aos fortes, os bravos, so pode exaltar” ( Gonçalves Dias)